sexta-feira, 27 de julho de 2012

Goodbye, Sammy!


Finalmente, acabei de assistir aos episódios de Life on Mars. E, caramba, que série boa!

* O comentário abaixo contém spoilers. Recomendo assistir ao final da série antes de ler.

E, se você ainda não conhece Life on Mars, corre pra ver! A série é excelente, você vai adorar!


Embora não nos tenha oferecido todas as respostas, o series finale (oitavo e último episódio da segunda temporada) de Life on Mars foi simplesmente memorável! Belo e instigante, possibilita várias interpretações. Certamente, faz com que o espectador tenha desejo de retornar à série outras e outras vezes - pelo menos eu fiquei com essa vontade.

O episódio final teve muitos momentos de tensão e cenas ótimas, como a conversa entre Sam (John Simm) e Frank Morgan (Ralph Brown) - com uma esclarecedora visita ao cemitério -, o tiroteio na linha do trem e, é claro, a volta do protagonista "para casa"- vendo, literalmente, uma luz no fim do túnel.

Mas, afinal, que "casa", que tempo, que realidade? Embora isso tenho ficado mais evidente no fim, ao longo da série fomos percebendo que Sam se sentia realmente vivo em 1973, e não no século XXI, tempo ao qual pertencia originalmente. No entanto, o personagem só começa a compreender isso depois de receber mais um "toque" de Nelson (Tony Marshall) - o barman que sempre pareceu saber de mais coisas que as outras pessoas.

Mostraram-se interessantes os paralelos traçados entre as duas realidades, como Frank Morgan atuando como o líder da operação M.A.R.S (percebeu a sigla?), para a reestruturação da força policial de Manchester, e também como o cirurgião que, em 2006, realiza a operação para a remoção do tumor do cérebro de Sam. Gene Hunt (Philip Glenister) acabou, assim, sendo uma personificação do câncer. Não bastava, portanto, arruiná-lo profissionalmente. Apenas o extermínio de Hunt e de sua equipe poderiam realmente trazer Sam de volta a 2006 - essa ideia da morte de Gene, na verdade, já havia sido explorada, de maneira diferente, é claro, no final da primeira temporada.


Foi um baque para Sam constatar que era um traidor. E, obviamente, deixar os amigos e a amada Annie (Liz White) morrerem não passava por sua cabeça quando ele continuou a ajudar Morgan na tentativa de retirar Hunt da polícia. Assim, acordar no hospital e retomar a rotina de trabalho em 2006 foi extremamente frustrante para Sam. Aquela sala organizada, limpa e monótona em nada lembrava o ambiente escuro, empoeirado e cheio de fumaça de cigarro do escritório dos anos 70. Fora as pessoas, tão sérias e educadas... Que falta não faziam as loucuras, gritos e palavrões do pessoal de Gene Hunt?

A sequência abaixo, já na reta final do episódio, sem dúvida, é uma das melhores coisas que já vi em televisão. É impossível não chegar a esse ponto da série e não se emocionar com o dilema de Sam - e não cantar junto com Bowie.


Nesse momento, é possível notar que Life on Mars acaba tocando em temáticas como a relação entre o suicídio e o livre arbítrio - lembrando que há uma discussão sobre a existência de Deus no sexto episódio dessa segunda temporada, quando Sam afirma acreditar que "Deus está nos detalhes" (frase atribuída ao arquiteto Ludwig Mies van der Rohe).

De fato, ao assistir a esse series finale, é preciso estar atento aos detalhes, para conseguir ver melhor como as coisas se conectam e "saborear" ainda mais o que o roteiro nos oferece. O número de telefone com o qual Sam se comunicava com Hyde, por exemplo, é o de sua enfermaria no hospital. Há também um gancho para o spin-off Ashes to Ashes quando Sam pede que a caixa com suas anotações e gravações seja dada a uma oficial que analisa casos de policiais que passaram por algum tipo de trauma. Como mais tarde o espectador descobrirá, essa policial é a psicóloga Alex Drake (Keeley Hawes).

A sequência final é apaziguadora em certo sentido, mas nos deixa com dúvidas semelhantes às que ficamos ao final de Taxi Driver (veja aqui o que os críticos discutem sobre o filme de Scorsese). Será que Sam realmente conseguiu voltar para Annie ou tudo não passou de sua imaginação?

E a pergunta que nos perseguiu ao longo da série: afinal de contas, Sam Tyler estava louco, em coma, ou voltou no tempo? Bem, não há uma resposta exata para isso - muito menos o porquê dessa aventura no tempo fica claro. O episódio nos levar a intuir que um pouco das três coisas aconteceram com o policial.

Para complicar ainda mais a situação, o que dizer da garotinha de vestido vermelho em sua última aparição, observando-nos e "nos desligando", como se ela fosse a espectadora e nós o programa de TV? Acho que foi uma forma de os roteiristas darem uma "piscada de olho" para nós, mostrando que os limites entre ficção e realidade não estão tão definidos assim. Ou, ainda, que não importa o que tenha acontecido com Sam, pois não há como determinar o que é real ou não - tudo vai depender do ponto de vista do telespectador, de como ele irá interpretar o que lhe foi apresentado.

Enfim, é com grande tristeza que me despeço de Sam Tyler. Mas, com muito gosto, passarei a conferir o trabalho do ótimo ator John Simm em outras produções.

E Ashes to Ashes que me aguarde!

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