domingo, 20 de janeiro de 2013

Ashes to Ashes: algumas impressões

"Ashes to ashes, funk to funky...".
 
Em Ashes to Ashes, spin-off da aclamada série Life on Mars, a sombria e intensa Manchester dos anos 1970 dá lugar à Londres colorida e vibrante dos anos 1980. Mas o crime e a corrupção existem em todo lugar, não importa a época, não é mesmo? E quem melhor para combatê-los que o DCI Gene Hunt e seus fiéis escudeiros Ray Carling e Chris Skelton?

Investindo mais na comédia que sua antecessora, Ashes to Ashes, se não agrada a todos os fãs de Life on Mars, revelou-se, ao fim de sua primeira temporada, um ótimo divertimento.

"Eu estou feliz e espero que você também esteja".

* O comentário abaixo contém spoilers. Recomendo assistir aos episódios antes de ler.


No início, quando decidi assistir a Ashes to Ashes, eu não estava levando muita fé na série. É que amo Life on Mars, considero suas duas únicas temporadas, se não perfeitas, quase isso! Logo, a ideia de uma série derivada não me era muito agradável. Dos CSI, por exemplo, a única série que gosto é a original - ainda assim, esta acabou perdendo boa parte de sua graça para mim com a saída do ótimo William Petersen (o Grissom).


Embora o series premiere de Ashes to Ashes tenha sido promissor, cheio de referências à série que lhe deu origem - como a cena em que Gene (Philip Glenister, das ótimas séries State of Play, Life on Mars e Mad Dogs) diz a Alex que foi ela quem escolheu estar ali, exatamente o que já havia dito a Sam Tyler (John Simm, companheiro de Glenister nos trabalhos já citados) -, ao longo dos episódios da primeira temporada foi possível perceber uma certa desacelerada no ritmo ou um sentimento de déjà vu. Felizmente, nos dois episódios finais, Ashes to Ashes deu uma recuperada no fôlego e conseguiu acertar seu tom. No fim das contas, o saldo da primeira temporada foi positivo. 

Seguindo o padrão de Life on Mars, cada temporada de Ashes to Ashes tem 8 episódios, com aproximadamente 60 minutos de duração - Ashes teve um total de três temporadas, tendo sido exibida entre 2008 e 2010 na BBC. A inspiração para a série também é uma canção de David Bowie: "Ashes to Ashes", do álbum Scary Monsters (and Super Creeps), de 1980. A música tem grande importância na discografia de Bowie, já que recupera um personagem emblemático de sua obra: o astronauta Major Tom, de "Space Oddity" (do álbum David Bowie, de 1969). Além disso - anote aí -, a letra de "Ashes to Ashes", a capa desse single (ao lado) e seu videoclipe, inovador para a época, são importantes para a compreensão dos eventos dessa primeira temporada da série.


Mas do que trata Ashes to Ashes, afinal? A série tem início em 2008, quando a detetive Alex Drake (Keeley Hawes, que mais recentemente foi a Lady Agnes da série Upstairs, Downstairs), uma psicóloga que analisa casos de policiais que sofreram algum tipo de trauma, tem em mãos o enigmático caso de Sam Tyler, um DCI que esteve em coma durante algum tempo e que após despertar acaba cometendo suicídio - lembram-se do episódio final de Life on Mars e da escolha feita por Sam? Alex está levando sua filha, Molly (Grace Vance), para a escola - é também aniversário da menina - e ambas conversam sobre o caso de Sam, que deixou bastante material escrito e gravações relatando suas experiências do período em que esteve em coma, quando a policial recebe um chamado para negociar com um homem que estava mantendo uma refém em um ponto da cidade.


O tal homem, Arthur Layton (Sean Harris, que interpretou Ian Curtis em 24 Hour Party People - A festa nunca termina), conhecia Alex e exigiu sua presença. Em uma tensa sequência, Layton, após colocar a vida de Molly em perigo, acaba pegando Alex como refém e logo percebemos que o bandido sabe algum segredo sobre a família da psicóloga. Layton leva Alex para um barco abandonado e, deixando a policial sem qualquer chance de defesa, atira em sua cabeça. A partir daí, tem início a aventura de Alex, que misteriosamente desperta em 1981, no mesmo barco que estava em 2008 - mas então usado para festas regadas a álcool, drogas e prostitutas.



Alex Drake acredita que está junto a Gene Hunt, Chris (Marshall Lancaster) e Ray (Dean Andrews) porque assimilou as lembranças de Sam Tyler e se este, após ser atropelado, entrou em coma e foi parar em 1973, ela também continua viva no mundo real, com uma bala alojada na cabeça, "a um segundo vida ou a um segundo da morte". A DI Drake decide, então, lutar pela própria vida e voltar para a filha. Intui, inicialmente, que Layton é chave para a resolução de seu problema. Porém, ao longo da temporada, descobrimos que há muito mais coisa em jogo, como a morte de seus pais, ocorrida exatamente em 1981.


Se Sam Tyler temia as aparições da Test Card Girl, é o Pierrot do single de Bowie (sobre o qual falei acima) quem faz gelar o sangue Alex - e a "explicação" para o surgimento dessa figura nas alucinações da psicóloga dada no último episódio da temporada acaba sendo um tanto freudiana... Creio que esse maior aproveitamento da obra de Bowie na série, intensificando a relação intertextual, é um ponto bastante positivo para Ashes to Ashes. Também foi muito bem aproveitada em toda a temporada a relação de Alex com seus familiares, principalmente com a mãe, Caroline (Amelia Bullmore), e com seu padrinho, Evan (Stephen Campbell Moore).


Contudo, como pontos fracos da série apontaria, em primeiro lugar, a "suavizada" (ou seria uma "humanizada?") dada no personagem de Philip Glenister. O Gene Hunt de Ashes to Ashes não é o mesmo de Life on Mars, parece mais apático. É claro que a mudança de comportamento pode ser explicada pela perda do amigo Tyler (que, descobrimos, também morreu nesta outra realidade) ou por Hunt se sentir já velho ou desatualizado - o questionamento "poderia um policial das antigas como Hunt sobreviver na Polícia informatizada e supostamente certinha que se estava querendo implantar na Inglaterra nos anos 1980?" é explorado durante toda a temporada. Também há a atração que Gene sente por Alex, que certamente fez o DCI tornar-se mais "cavalheiro", digamos assim. Só que o Gene insano, com sua boca suja e ótimas tiradas de Life on Mars era bem mais interessante, na minha opinião.


Além disso, embora saibamos que sente falta da filha, Alex não consegue nos sensibilizar como Sam. Sentíamos o quanto ele sofria e estava dividido com as novas situações em que estava envolvido. Já Drake é bem mais "saidinha" que Sam, consegue se adaptar melhor à nova realidade. Penso que quando comparada a Life on MarsAshes to Ashes perde bastante em dramaticidade. E a ironia e acidez da série antecessora dão lugar a um humor de tom mais debochado e descompromissado.

Enfim, Ashes to Ashes tem seus altos e baixos, mas, certamente, é mais uma produção de qualidade da BBC e merece, sim, ser apreciada.
Confira abaixo outro trailer da série disponível no YouTube:


Mais informações:

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