sábado, 28 de maio de 2016

A atualidade de "Desordem", dos Titãs


Dia desses, fazendo minha "viagem" diária para o trabalho, ouvi pelo rádio (sim, eu ainda ouço rádio!) a música "Desordem", dos Titãs, algo que não ocorria há muito tempo, até porque essa música hoje não é das mais executadas da banda. Foi então que me dei conta da surpreendente atualidade de "Desordem".

A faixa, que integra o álbum Jesus não tem dentes no país dos banguelas, de 1987, revela problemas sociais do Brasil que são absurdamente comuns ainda hoje, quase trinta anos após o lançamento do disco dos paulistas - fugas de prisões, brigas de torcidas, preços nas alturas, população em conflito com a polícia, etc. A canção segue ainda questionando a própria ideia de justiça (mas também a quem tenta fazer justiça com as próprias mãos), além de criticar aqueles que acreditam em um "país do futuro":

"O que mais pode acontecer
Num país pobre e miserável?
E ainda pode se encontrar
Quem acredite no futuro"

E, considerando a parte final da letra, é impossível ouvir os seguintes versos e não pensar no nosso atual momento político:

"É seu dever manter a ordem,
É seu dever de cidadão,
Mas o que é criar desordem,
Quem é que diz o que é ou não?
São sempre os mesmos governantes,
Os mesmos que lucraram antes,
Os sindicatos fazem greve
Porque ninguém é consultado
Pois tudo tem que virar óleo
Pra por na máquina do estado. 
Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?"

Em um país em que o PMDB consegue emplacar o terceiro presidente sem eleições somente no período da chamada Nova República, como com apropriado sarcasmo observou o pessoal do Sensacionalista, e em que o positivismo (paradigma do final do século XIX, início do XX, e que foi uma das bases teóricas dos proclamadores da República, como Benjamin Constant) parece tentar ser retomado (?!) pelo presidente interino, através da logomarca a ser utilizada em seu governo, o questionamento dos Titãs faz todo o sentido. Afinal, no Brasil de hoje (ou de sempre?) "Quem quer manter a ordem?/ Quem quer criar desordem?".


Nesse feriadão, em que tenho tanta coisa pra estudar, não pude resistir e tive de ouvir uns discos dos Titãs - principalmente este Jesus não tem dentes no país dos banguelas e seu antecessor, Cabeça dinossauro, de 1986, que revelam uma forte influência punk, que muito me agrada. Dois álbuns que considero, aliás, extremamente necessários àqueles que gostam de música e aos historiadores.

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