domingo, 17 de julho de 2016

Para conhecer o Britpop: 20 bandas e músicas essenciais do movimento

A famosa guitarra de Noel Gallagher com a bandeira do Reino Unido

Considero que o Britpop, movimento musical sobre o qual já falei algumas vezes aqui no blog, é um dos mais importantes do rock mundial. Como julho tem sido considerado o "mês do rock" (ao menos no Brasil, em que se comemora o Dia Mundial do Rock em 13 de julho), eu ouço várias bandas Britpop e adoro listas, pensei: por que não unir o útil ao agradável e montar um Top 20 com bandas do Britpop? É uma oportunidade para quem não está familiarizado conhecer um pouco dessa vertente do rock dos anos 1990.

Mas falar sobre Britpop é enveredar por um caminho tortuoso, já que é difícil encontrar consenso entre críticos e músicos sobre características e origens do movimento. Muita gente utiliza o termo de maneira mais genérica e ampla, de forma a considerar toda a produção musical pop britânica - nesse caso, as Spice Girls e o Take That, por exemplo, poderiam ser considerados Britpop. E, temporalmente, das bandas dos anos 1960, como The Beatles e The Kinks, até as atuais, como Arctic Monkeys e Coldplay, seriam também representantes do Britpop. Há pessoas que o consideram, ainda, como um subgênero do rock. 

Pessoalmente, creio tais visões são errôneas. A classificação como subgênero não é satisfatória, pois as bandas comumente associadas ao Britpop têm influências e sonoridades bastante variadas. A ideia de movimento musical me parece mais adequada. E, como movimento, o Britpop está circunscrito a um dado contexto histórico e cultural, não se refere a toda a música pop do Reino Unido produzida desde os anos 1960. O Britpop, conforme pensado por Damon Albarn (que, de acordo com o documentário No Distance Left to Run, teria idealizado o movimento) refere-se às bandas de rock britânicas que começaram a reagir à dominação dos Estados Unidos no panorama musical inglês, em especial o grunge.

A imagem acima, que reúne vocalistas de algumas das principais bandas do Britpop, brinca com o cartaz do filme Trainspotting, de 1996

Tentar definir marcos temporais é complicado. Mas, pelo que já li e assisti em documentários, pode-se dizer que as origens do Britpop remontam aos anos de 1992 e 1993, quando Blur e Suede lançaram os singles "Popscene" e "The Drowners" e os álbuns Modern Life Is Rubbish e Suede. Mas o chamado Madchester, na virada da década de 1980 para a de 1990, também teve uma influência decisiva para o movimento, principalmente por conta do som dos Stones Roses, que apontava novos caminhos.

O período áureo do Britpop se situa entre os anos de 1994 e 1995, quando uma série de álbuns fantásticos foi lançada - Parklife, Dog Man Star, (Wha'ts the Story) Morning Glory?, Different Class, I Should Coco, Elastica, etc. - e se deu a famosa "Batalha do Britpop" entre Blur e Oasis. No documentário Live Forever: the rise and fall of Britpop, atribui-se o sucesso mundial do Oasis ao vácuo deixado pelo Nirvana após a morte de Kurt Cobain em 1994.

A partir de 1997 o movimento começa a se desgastar e álbuns lançados nesse ano, como Blur, Urban Hymns e, principalmente, OK Computer, sinalizaram novos rumos musicais. A imprensa torceu o nariz para Be Here Now, do Oasis, e o crítico Jon Savage apontou esse disco como o fim do era do Britpop.

A "Batalha do Britpop" estampando as capas de revistas

Polêmicas à parte, o certo é que no Pós-Segunda Guerra este foi um dos principais momentos em que a música popular britânica conseguiu se contrapor à hegemonia cultural estadunidense - talvez o maior desde a "British Invasion". A juventude, desiludida com a política neoliberal e com vários anos de governo conservador, ansiava por uma mudança política - daí porque muitos depositaram suas fichas no trabalhista Tony Blair (mal sabiam eles a decepção que logo teriam...).

E, além da heroína, bastante usada por músicos na época ("Beetlebum", do Blur, é uma canção sobre a experiência com a droga), o ecstasy se tornou o vício da vez. Surge a ideia de uma "Cool Britannia" nos anos 1990, que é comparável à efervescência da "Swinging London" dos anos 1960. Fora a música, a moda e o cinema britânicos também tiveram grande destaque no período (mas isso já é assunto para outra postagem).

Enfim, o tema é bastante rico e poderia ser discutido por horas. Mas, vamos ao que interessa. Para a composição da lista foram elencadas 20 bandas que costumam ser apontadas como integrantes do movimento Britpop (acredite, há muitas outras mais) e foi selecionada uma canção de cada uma. Os critérios de escolha levaram em conta a representatividade das bandas para o movimento e também a minha própria familiaridade - afinal, há muita coisa que não conheço ainda, só posso falar do que já ouvi.

Eis a lista...

Top 20 - Bandas Britpop:

1. Blur – "Parklife"
2. Oasis – "Wonderwall"
3. The Verve – "Bitter Sweet Symphony"
4. Suede – "Beautiful Ones"
5. Supergrass – "Alright"
6. Pulp – "Common People"
7. Elastica – "Connection"
8. Manic Street  Preachers – "Motorcycle Emptiness"
9. Embrace – "All You Good Good People"
10. Super Furry Animals – "The Man Don't Give a Fuck"
11. The La’s – "There She Goes"
12. The Charlatans - "The Only One I Know"
13. Ash – "Girl from Mars"
14. Menswear - "Daydreamer"
15. Kula Shaker - "Tattva"
16. Sleeper – "Inbetweener"
17. Gene – "Hauntend by You"
18. Shed Seven – "Getting Better"
19. Ocean Colour Scene – "The Day We Caught The Train"
20. Stereophonics – "A Thousand Trees"

 Ouça a playlist no Spotify.


Capas de alguns álbuns

Algumas observações sobre a formação da lista: as músicas mais antigas são "There She Goes" (de 1988) e "The Only One I Know" (1990), enquanto as mais recentes são "Bitter Sweet Symphony", "All You Good Good People" e "A Thousand Trees" (todas de 1997). A ideia foi traçar aqui um panorama do movimento, desde suas origens.

The La's, assim como The Stone Roses, representam mais um "pré-Britpop", já que são bandas que tiveram seu auge na virada dos anos 1980 e 1990, momento em que ainda não se falava em Britpop, mas ambas são referências importantes para as bandas que se seguiram. Porém, o primeiro grupo foi incluído na lista e o segundo não, pois o Stone Roses é mais associado à cena do Madchester - outro movimento, que surgiu no fim da década de 1980 na cidade de Manchester, a partir das bandas que se apresentavam no clube Haçienda ou eram ligadas à Factory Records (quem sabe falo dele um dia?).

The Charlatans também surgiram no seio do Madchester, porém se tornaram bastante populares no contexto do Britpop e têm uma carreira bem mais regular que os Stone Roses, que, apesar de toda a sua relevância, não foram capazes de resistir ao "boom" do Britpop em meados da década de 1990.

O Stereophonics, que fecha a lista, é mais adequadamente um grupo pós-Britpop. Mas a banda liderada por Kelly Jones se formou em meados dos anos 1990 e, mesmo que tenha alcançado maior reconhecimento nos anos 2000, é bastante tributária do Britpop. Seu álbum de estreia, Word Gets Around, no qual se encontra a faixa "A Thousand Trees", foi lançado em 1997, o ano em que o Britpop começa a entrar em declínio.

Situação parecida se dá com o Embrace, que se forma em 1993, mas só vem a lançar um álbum (The Good Will Out) em 1998. Porém o single "All You Good Good People", lançado em 1997, é inegavelmente uma canção Britpop - a melodia ecoa Oasis e The Verve.


O Britpop em imagens

Manic Street Preachers não é bem uma banda típica do Britpop. Os galeses construíram uma das mais sólidas, exitosas e ecléticas carreiras entre as bandas de sua geração, com vários álbuns excelentes ao longo dos anos (Generation TerroristsThe Holy Bible, Everything Must Go, This Is My Truth Tell Me Yours, Send Away the Tigers, Journal for Plague Lovers). Em sua fase inicial, dominada pela figura de Richey Edwards (que desapareceu misteriosamente em 1995), o grupo teve forte influência do glam rock, assim como o Suede, além do punk e do hard rock. Os Manics herdaram do The Clash a predileção por temas políticos. É uma das minhas bandas favoritas e só não ocupa um lugar mais elevado nessa lista, justamente por não se enquadrar muito no Britpop. Em 1994, quando o movimento estava em seu ápice, eles já buscavam uma nova sonoridade em The Holy Bible. Mas "Motorcycle Emptiness", do disco de 1992, é um retrato dessa geração consumista que se perde nas luzes de neon das cidades.

E por que o Blur está no topo da lista? Bom, o povo do Oasis que me desculpe (é a banda da qual eu tenho mais CDs, aliás), mas eu realmente considero o Blur como o grupo que melhor representou o espírito do Britpop. A "Life Trilogy", composta pelos álbuns Modern Life Is RubbishParklife e The Great Escape, conseguiu captar a essência daquela juventude que chegou aos anos 1990 aprisionada aos moldes do Tatcherismo, mas que, ao mesmo tempo, desejava se rebelar, diante dos inúmeros problemas sociais resultantes da política econômica neoliberal mantida por mais de uma década de governo conservador e dos efeitos da globalização, que, entre outras coisas, impunha os padrões culturais norte-americanos. E, como disse o jornalista e historiador Carlos Eduardo Lima (com quem eu concordo totalmente), "a Inglaterra tem cheiro de Blur".


Blur: crítica à sociedade britânica, mas buscando afirmar uma identidade musical própria do Reino Unido

Alguns links interessantes:
- NME: "The Ultimate Britpop Playlist"
- Paste Magazine: "The 50 Best Britpop Songs"
- Scream & Yell: "A Inglaterra tem cheiro de Blur", por Carlos Eduardo Lima
- Scream & Yell: "Discografia comentada: Suede", por Eduardo Palandi
- Público: "A vida moderna deles é ótima - a nossa continua rubbish"
- Clube do Vinil - UFF: "10 álbuns para entender o Britpop"
- Miojo Indie: "10 discos para gostar de Britpop"
- Altamont: "Especial Britpop: uma análise política e social"
- MIP: "Britpop - a história"
- Folha de São Paulo: "Era Tony Blair simboliza auge e queda do Britpop"
- Independent: "Beyond Britpop: Whatever happened to the class of '95?"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
Citrus Pink Blogger Theme. Design By LawnyDesignz. Custom by Notas Dissonantes. Powered by Blogger.